terça-feira, 14 de maio de 2013

Projeto Leitura Cronológica: Quincas Borba


MACHADO DE ASSIS, Joaquim Maria (1839-1908)Quincas Borba. Porto Alegre, RS: L&PM, 2012.


"...Rubião tinha os olhos no Quincas Borba, que farejava impaciente, e que se atirou para ele logo que um moleque abriu a porta do cercado. Foi uma cena de delírio; o cachorro pagava as carícias do Rubião, latindo, pulando, beijando-lhe as mãos." (p. 70-71)

Antes de começar a comentar o enredo do livro, gostaria de ressaltar a nota de Machado de Assis feita à sua terceira edição onde ele diz que um amigo lhe sugeriu que  "Quincas Borba" seria uma continuação de "Memórias Póstumas de Brás Cubas" e pedia que Machado fizesse uma trilogia escrevendo um livro dedicado a persongagem Sofia. Machado diz que chegou a considerar a sugestão mas que depois declinou dela afirmando que tudo o que tinha para dizer sobre Sofia já estava dito no livro (Quincas Borba) e que escrever outro sobre ela seria "repeti-la". Esta nota - em tempos em que qualquer livro se transforma em uma série interminável de repetições - me soa bastante sábia.

Neste livro, reencontramos Quincas Borba, personagem que tem sua participação em Memórias Póstumas como amigo de Brás Cubas. Aqui, ele já está doente e aos cuidados do amigo, o ex-professor Rubião, e sempre ao lado de seu cão fiel a quem ele deu seu próprio nome, Quincas Borba. 

Quincas Borba morre no Rio de Janeiro já completamente louco com sua filosofia e deixa sua herança ao seu amigo Rubião com a condição de que este cuide de seu cachorro tal como se fosse ele. Em posse de sua recém adquirida fortuna Rubião deixa Barbacena e segue para o Rio de Janeiro. No trem conhece o casal Palha e Sofia que se encarrega de inseri-lo na corte. 

Rubião aos poucos apaixona-se por Sofia que mantém uma atitude ambígua com relação a ele ora atraindo ora repelindo suas investidas. E sendo o marido conivente com esta situação para tomar emprestimos de Rubião. Assim, nas mãos de seus "amigos" da corte: Palha, Sofia, Camacho, Freitas e tantos outros. Rubião acaba por esbajar sua fortuna e perder também o juízo restando apenas a solidão, a loucura e seu único e fiel amigo, o cão Quincas Borba.

Aqui pode até parecer que já se disse tudo sobre o livro, mas não se engane em pensar que qualquer livro do Machado de Assis não tem graça em ser lido porque já se sabe o que acontece no final. A "graça" de ler Machado de Assis não é saber o que acontece, mas como acontece. A sutileza, a ironia com que ele narra esses acontecimentos não têm preço. E por mais que se conheça de cor para onde caminha a estória sempre vale a pena só pelo prazer de se encontrar com a sua maravilhosa escrita.

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